Maternidade

E você chegou.

Dia 18 de Setembro amanheceu diferente. Acordei às 5h30 muito feliz por ter conseguido dormir a noite toda, mesmo que com aquele barrigão todo e inacreditavelmente sem nenhum despertar para ir ao banheiro. Teu pai estava dormindo do meu lado, filho e quando eu levantei senti alguns pingos escorrerem pelas pernas. Fiquei intrigada, no dia anterior havíamos ido na fisio pélvica, como religiosamente íamos todas as sextas e ela havia elogiado meu assoalho pélvico… Será que nesse ponto da gestação eu teria tido escape de xixi??

Fui ao banheiro, esvaziei a bexiga e voltei a me deitar. Fiquei com aquilo na cabeça, intrigada e não consegui mais dormir. Pouco tempo depois, decidi me levantar de novo e lá estavam novamente os pingos escorrendo… É, poderia ser a bolsa, não é mesmo? Eu sempre soube que você viria antes, mas eu ainda achava que seria na semana seguinte e não “tão antes” assim… Teu pai acordou e me viu parada, imóvel, de pé no quarto, foi quando ele perguntou se eu estava bem e só consegui dizer: “acho que a bolsa rompeu”. Ele levantou dizendo um “eita” e fomos pra sala, tomar café e processar a informação. Lá estávamos nós dois, como quando descobrimos a gestação: na sala, digerindo tudo aquilo. Esperei até umas 10h para comunicar a doula e a obstetra e foi quando as contrações começaram bem fraquinhas, como uma cólica que eu já conhecia. Quando a doula disse: “nos vemos mais tarde então” foi quando eu entendi que o nosso encontro estava muito mais próximo do que eu havia imaginado.

As contrações foram aumentando e quando elas ficaram ritmadas o suficiente fomos pra maternidade. Internamos às 14h e nesse ponto eu já não estava vendo mais graça nas contrações, no entanto, conseguia aproveitar muito o relaxamento que elas deixavam quando elas passavam. Fomos direto pra sala de parto, neste ponto eu já estava com 5 dedos de dilatação e perdendo a noção do tempo. Daí pra frente lembro de algumas coisas muito claras que vou tentar descrever.

Lembro de ir pro chuveiro para aliviar as dores, lembro do teu pai me olhando com olhos de carinho e me dando um suporte que foi fundamental, lembro de focar apenas na próxima contração, sem expectativa de tempo, de demora, de finalização, mas confesso que em algum momento ficou difícil e falei isso pra doula que com aquela voz doce disse “Eu sei, é difícil mesmo, mas tu está indo muito bem”. Lembro de pensar que se eu quisesse pedir analgesia em algum momento eu poderia e bem sinceramente, até hoje eu não entendi o que fez eu não cogitar isso como uma possibilidade real. Chegou num ponto que eu estava cansada, teu pai estava cansado (de tanto que eu apertei ele) e acabei me apegando em alguns detalhes que fizeram eu perceber que o nosso encontro estava muito perto.

Vi a doula mudando o ambiente, trazendo velas pra onde estávamos, vi a obstetra colocando luvas e conferindo teus batimentos a cada momento (e você esteve tão estável o tempo todo filho, que realmente me impressionou), senti as contrações intensificarem de uma forma que eu não tinha como imaginar antes e foi quando decidimos que eu iria te esperar na cama. Perguntei inúmeras vezes se estava tudo bem e se estávamos quase, “quase” me servia muito mais do que horas e minutos, porque eu realmente não tinha mais noção de tempo. Foi quando eu vi a obstetra abrir todo o estojo para preparar a tua chegada, entre minhas vocalizações como a fisio recomendou, apertos no teu pai e muito amor da equipe que eu ouvi um “nunca esteve tão quase”, “daqui umas duas ou três contrações ele vem”. Nunca me concentrei tanto.

E foi como tu veio, filho. Com uma equipe incrível, com um trabalho de parto respeitoso, meu e teu, entre massagens que ganhei da doula, entre cuidados da obstetra contigo e com todo o amparo e amor que teu pai podia nos dar. Ás 20h25 tu chegou nesse mundão pra fazer meu coração transbordar. Sem analgesia, sem lacerações, me fazendo transcender e expandir para um lugar que eu jamais poderia ter imaginado.

Eu não tenho palavras pra agradecer à essa equipe que nos ajudou para esse dia ser tão especial, eu não tenho palavras pra agradecer ao teu pai por ter sido meu porto seguro no momento mais desafiador da minha vida, eu não tenho palavras pra te agradecer por ter nos escolhido.

Tu nasceu e eu renasci junto contigo, obrigada meu amor.

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